Todos sabemos que a água é um elemento essencial para a manutenção da vida, bem como necessária a uma grande variedade de atividades humanas. Mas você sabia que existem parâmetros específicos, determinados por lei, para garantir a qualidade da água que utilizamos?
Pois eles existem, e estão especificados na Resolução Nº 357, de 17 de março de 2005 do CONAMA, o Conselho Nacional do Meio Ambiente. Neste texto, vamos analisá-los individualmente para conceber o conceito da água ideal dos pontos de vista físico, químico e biológico.
Classificação das impurezas
Antes de prosseguirmos com a exposição dos parâmetros de qualidade da água, precisamos classificar as impurezas de acordo com a sua natureza.
As impurezas físicas podem ser sólidas ou gasosas, sendo que as sólidas, por sua vez, se subdividem em suspensas, coloidais e dissolvidas.
As impurezas químicas podem ser classificadas em inorgânicas e orgânicas, sendo os metais pesados um exemplo do primeiro grupo e os pesticidas, do último.
Por fim, as impurezas biológicas são os microrganismos: bactérias, vírus e protozoários.
O fluxograma abaixo resume o que acabamos de explicar.
Classificação dos parâmetros físicos
Como as impurezas estão divididas em classes, consequentemente, os parâmetros de qualidade da água também estão.
Os parâmetros físicos são a cor, a turbidez, a temperatura e o sabor/odor.
Já os parâmetros químicos são a salinidade, a dureza, a alcalinidade, a corrosividade, a presença de íons de ferro e manganês, presença de impurezas orgânicas e inorgânicas, presença de nitrogênio ou fósforo e presença de agrotóxicos.
Os parâmetros biológicos tratam da presença de microrganismos patogênicos, coliformes fecais, algas e bactérias decompositoras.
Passaremos agora à explanação de alguns desses parâmetros, começando pelos físicos.
Parâmetros físicos
A cor é o parâmetro que trata da aparência da água devido aos sólidos dissolvidos. Sua alteração pode ter origem natural, devido à presença de matéria orgânica ou de íons ferro e manganês ou pode ser derivada de alguma atividade antropogênica, como resíduos industriais ou esgotos domésticos despejados no corpo d’água em questão.
A alteração da cor não apresenta risco direto à saúde (isto é, na maioria dos casos, pois os esgotos de origem industrial podem apresentar toxicidade). No entanto, a interferência nas características estéticas deve ser levada em conta, afinal, ninguém gosta de beber água quando ela não está límpida.
A turbidez mede o grau de interferência à passagem da luz causada por sólidos em suspensão. Esses sólidos também podem ter origem natural (partículas de solo como argila, silte ou microrganismos) ou serem originários de atividades antropogênicas, como resíduos domésticos e industriais.
Assim como acontece com a cor, a turbidez causada por fatores naturais, não apresenta inconvenientes sanitários diretos, ainda que os fatores antropogênicos representem risco de toxidez e patogenicidade.
A turbidez deve ser levada em conta principalmente porque a interferência à passagem de luz prejudica diretamente a fotossíntese das plantas aquáticas, o que pode acarretar danos ao equilíbrio do ecossistema aquático.
O parâmetro da temperatura avalia a intensidade do calor na água. O calor natural é provocado pelos três processos de transmissão que conhecemos: radiação, condução e convecção. Já o antropogênico é causado, novamente, por despejos irregulares e torres de resfriamento.
A importância de se avaliar a temperatura da água reside no fato de que elevações de temperatura interferem nas taxas de reações químicas, na solubilidade e na transferência de gases.
Devemos lembrar também que, devido ao alto calor específico da água, os seres aquáticos não estão acostumados com mudanças bruscas de temperatura, o que acontece, por exemplo, quando água utilizada para resfriamento de caldeiras em indústrias é posteriormente despejada em corpos d’água. Esse caso configura o que chamamos de poluição térmica, e representa sério risco às comunidades aquáticas.
O sabor/odor é uma característica estética resultante da interação gosto/odor por sólidos ou gases. Quando de origem natural é causada por matéria orgânica, algas ou Sulfeto de Hidrogênio (H2S), por exemplo. O homem contribui com a alteração dessa característica graças aos resíduos domésticos e industriais.
Assim como a turbidez, não apresenta riscos sanitários diretos, a não ser aqueles que porventura advenham da toxicidade e patogenicidade dos despejos. Porém, como a cor, é uma característica estética que não deve ser ignorada, por ser extremamente desagradável ingerir água que não seja insípida e inodora.
Passaremos agora à avaliação dos parâmetros químicos.
Parâmetros químicos
O pH, como sabemos, mede a concentração de íons H+, indicando se o meio é ácido, alcalino ou neutro. É muito importante conhecer o pH do meio aquático antes de se iniciar o tratamento na ETA (Estação de Tratamento de Água), pois um pH muito baixo é corrosivo e um muito elevado causa incrustações nas tubulações.
Em relação às comunidades, qualquer valor de pH distante do neutro causa problemas bióticos.
As presenças de formas solúveis de Ferro e Manganês na água conferem coloração avermelhada à mesma e sensação de adstringência a quem a bebe. Esses elementos podem ser provenientes de rochas ou do próprio solo, bem como de esgotos. Não possuem significado sanitário, apenas inconveniências estéticas.
É importante monitorar a presença de Oxigênio Dissolvido (OD) na água, pois é necessário à manutenção da microbiota aquática e em processos oxidativos. Quando a fotossíntese e o oxigênio natural do ar não são suficientes para atender a demanda, o homem pode auxiliar com a aeração artificial.
A Matéria Orgânica é o principal agente poluidor de esgotos e lançamentos. Seu despejo em grandes quantidades no meio aquático aumenta o consumo de OD pelos decompositores aeróbios, o que pode levar à morte de seres aquáticos por hipóxia (diminuição da quantidade de oxigênio disponível).
Os Micropoluentes Inorgânicos são os metais pesados como Arsênio, Cádmio, Cromo, Chumbo, Mercúrio e Prata na forma de sólidos dissolvidos ou suspensos. São originários da agricultura e da indústria, representando perigo por sua toxicidade e acumulação através dos níveis tróficos da cadeia alimentar.
Parâmetros biológicos
Por fim, os indicadores biológicos de qualidade da água são compostos pelas algas, bactérias decompositoras e microrganismos patogênicos. Estes últimos são indicadores específicos de matéria fecal, que caracteriza a água como imprópria para consumo.
Mas afinal, o que classifica uma água como própria para consumo?
De acordo com a Resolução N° 357 do CONAMA, as águas doces de classe 1 (classe indicada para o consumo humano) devem observar as seguintes condições:
- não verificação de efeito tóxico crônico a organismos, de acordo com os critérios estabelecidos pelo órgão ambiental competente, ou, na sua ausência, por instituições nacionais ou internacionais renomadas;
- materiais flutuantes, inclusive espumas não naturais: virtualmente ausentes;
- óleos e graxas: virtualmente ausentes;
- substâncias que comuniquem gosto ou odor: virtualmente ausentes;
- corantes provenientes de fontes antrópicas: virtualmente ausentes;
- resíduos sólidos objetáveis: virtualmente ausentes;
- coliformes termotolerantes: não deverá ser excedido um limite de 200 coliformes termotolerantes por 100 mililitros em 80% ou mais, de pelo menos 6 amostras, coletadas durante o período de um ano, com frequência bimestral.
- DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) 5 dias a 20°C até 3 mg/L O2;
- OD, em qualquer amostra, não inferior a 6 mg/L O2;
- turbidez até 40 unidades nefelométrica de turbidez (UNT);
- cor verdadeira: nível de cor natural do corpo de água em mg Pt/L; e
- pH: 6,0 a 9,0.
Sinta-se à vontade para mandar um e-mail para nossa equipe caso surja alguma dúvida sobre o conteúdo exposto.
Acadêmica de Engenharia Civil na Universidade Federal do Piauí.
Texto muito bem explicado.
Obrigada!