Instalações sanitárias: coleta e transporte de esgoto predial

Você também tem dúvidas de como deve ser feita a correta execução das instalações de esgoto de uma edificação?

Então você está no lugar certo!

Esse é o primeiro post da coletânea sobre Instalações Sanitárias que estamos preparando e, nele, iremos lhe mostrar os componentes do subsistema de coleta e transporte de esgoto sanitário predial, bem como as instruções técnicas para o correto uso desses componentes, de acordo com a ABNT NBR 8160/1999.

Isso, só pra começar! Ficou empolgado?

Componentes do subsistema de coleta e transporte de esgoto sanitário predial

Aparelho sanitário

Costumamos associar a palavra aparelho sanitário à imagem de uma vaso sanitário. No entanto, essa palavra tem um significado mais amplo e, nada mais é, que um aparelho ligado à instalação predial destinado ao uso de água para fins higiênicos ou a receber dejetos ou águas servidas.

Ou seja, os aparelhos sanitários contemplam, além dos vasos sanitários, os lavatórios, as pias, os mictórios, as banheiras e até os chuveiro.

Pois bem, engenheiros, agora que sabemos seu real significado, precisamos conhecer algumas recomendações para a correta instalação desses aparelho na sua edificação.

Instruções técnicas importantes

A principal recomendação é que esses dispositivos, durante a sua utilização, devem evitar qualquer tipo de contato com a água potável, de modo a não contaminá-la.

Desconector

Desconector é um dispositivo provido de fecho hídrico, destinado a vedar a passagem de gases mal cheiroso provenientes do esgoto para o ambiente.

Mas o que é fecho hídrico?

É apenas a camada líquida de impede a passagem dos gases, observe a imagem abaixo.

Desenho esquemático de um fecho hídrico.
Desenho esquemático de um fecho hídrico

Continuando, existem diversos tipos de desconectores usados nas instalações de esgoto, entre eles os sifões, as caixas sifonadas, os ralos sifonados e outro. Vejamos alguns exemplos abaixo.

Exemplo de desconectores.
Exemplo de desconectores

Instruções técnicas importantes

Primeiramente, devemos saber que os desconectores devem estar presentes em todos os aparelhos sanitários.

Além disso, em caso de pouca ou nenhuma utilização dos aparelhos sanitários, a altura do fecho hídrico deve passar por manutenções periódicas, de modo a evitar a passagem de mal cheiro pela evaporação do líquido nos desconectores.

Já em relação aos despejos provenientes de um conjunto de aparelhos sanitários de um mesmo banheiro, podem ser utilizadas caixas sinfonadas para coleta desses despejos.

E no caso dos despejos provenientes de mictórios, as caixas sifonadas devem possuir tampas cegas e não podem receber contribuição de outros aparelhos sanitários.

Ramais de descarga e de esgoto

Primeiramente, há uma sutil diferença entre um ramal de descarga e um ramal de esgoto.

Enquanto o ramal de descarga recebe diretamente os efluentes dos aparelhos sanitários, o ramal de esgoto recebe diretamente os efluentes do ramal de descarga. Bem simples, não é?

Esquema de ramal de descarga (vermelho) e ramal de esgoto (azul).
Esquema de ramal de descarga (vermelho) e ramal de esgoto (azul)

Instruções técnicas importantes

É importante levarmos em consideração que todos os ramais devem possibilitar acesso para limpeza e desobstrução.

Além disso, todos os trechos horizontais previstos na instalação devem possibilitar o escoamento por gravidade. Para que isso seja possível, esses trecho devem apresentar as seguintes declividades mínimas:

  • 2% para diâmetros de tubulação de até 75mm;
  • 1% para diâmetros de tubulação maiores ou iguais a 100mm.

É recomendado também que as mudanças de direção devem ser feias com peças de ângulo menor ou igual a 45° e as mudanças de direção horizontal para vertical podem ser executadas com peças de ângulo menor ou igual a 90°.

Curva de 45º (esquerda) e curva de 90° (direita).
Curva de 45º (esquerda) e curva de 90° (direita)

E é proibida a ligação entre os ramais de descarga ou de esgoto no ramal de descarga da bacia sanitária por meio de inspeção em joelho ou curva, conforme abaixo.

Exemplo de uma inspeção em joelho.
Exemplo de inspeção em joelho

Tubo de queda

O próximo componente é o tubo de queda que é simplesmente uma tubulação vertical que recebe efluentes de subcoletores, ramais de esgoto e ramais de descarga. Vale lembrar que essa tubulação só é usada para coleta de esgoto sanitário de edificações com mais de um pavimento.

Instruções técnicas importantes

Os tubos de queda devem ser instalados, preferencialmente, em um único alinhamento. Quando isso não for possível, os desvios podem ser feitos com curvas de 90° de raio longo ou duas curvas de 45°.

Curva de 90º de raio logo.
Curva de 90º de raio logo

Para edifícios com mais de um andar, caso o tubo de queda receba efluentes com presença de detergentes que provoquem a formação de espuma, devem ser adotadas as seguintes solução para evitar o retorno da espuma:

  • Não devem ser feitas ligações nas regiões de sobrepressão, conforme esquema abaixo;
  • Efetuar o desvio do tubo de queda para horizontal com com curvas de 90° de raio longo ou duas curvas de 45°, que aliviam a sobrepressão;
  • Ou instalar dispositivos que evitem o retorno da espuma.
Zonas de sobrepressão.
Zonas de sobrepressão

Subcoletores e coletor predial

Subcoletores são tubulações que recebem efluentes de um ou mais tubos de queda ou ramais de esgoto. Já o coletor predial é um trecho de tubulação compreendido entre a última inserção de subcoletor, ramal de esgoto ou de descarga, ou caixa de inspeção geral e o coletor público.

Ficou confuso?

Observe o esquema abaixo.

Diferença entre subcoletor e coletor predial.
Diferença entre subcoletor e coletor predial

Instruções técnicas importantes

O coletor e os subcoletores devem ser, preferencialmente, retilíneos. Caso isso não seja possível, devemos utilizar peças de no máximo 45º, acompanhadas de elementos de inspeção.

Além disso, todos os trechos horizontais previstos na instalação devem possibilitar o escoamento por gravidade. Para que isso seja possível, esses trecho devem apresentar as seguintes declividades:

  • no mínimo 2% para diâmetros de tubulação de até 75mm;
  • no mínimo 1% para diâmetros de tubulação maiores ou iguais a 100mm;
  • no máximo 5% para qualquer caso.

Quando for necessário aumentar o diâmetro da tubulação, as variações de diâmetro dos coletores e subcoletores devem ser feitas com dispositivos de inspeção ou com peças próprias para ampliação.

Em relação aos subcoletores, quando as tubulações forem aparentes, as interligações com ramais de descarga e ramais de esgoto devem ser feitas através de junções de 45°, com dispositivos de inspeção nos trechos adjacentes. Já quando as tubulações forem enterradas, devem ser feitas através de caixa de inspeção ou poço de visita.

E no caso do coletor predial, não pode existir interseções de quaisquer dispositivos, exceto da válvula de retenção de esgoto.

Dispositivos complementares

Dentre os dispositivos complementares da instalação sanitária estão as caixas de gordura, as caixas e os dispositivos de inspeção, como os poços de visita.

Veremos cada um desses dispositivos abaixo.

Caixa de gordura

Caixa destinada a reter, na sua parte superior, as gorduras, graxas e óleos contidos no esgoto, formando camadas que devem ser removidas  periodicamente, evitando que estes componentes escoem livremente pela rede e causem obstrução.

Elas são indicadas quando os efluentes do esgoto possuir resíduos gordurosos e devem ser instaladas em locais de fácil acesso e com boa ventilação.

Funcionamento de uma caixa de gordura.
Funcionamento de uma caixa de gordura

Instruções técnicas importantes

Caso um edifício possua máquina de lavar louça e pia de cozinha em seus pavimentos, não é permitido o uso de caixas de gordura individuais nesses andares. Neste caso, os despejos devem ser descarregados em um tubo de queda exclusivo e, por fim, em caixas de gordura coletivas.

Características das caixas de gordura

  • Capacidade de acumulação da gordura entre cada operação de limpeza;
  • Dispositivos de entrada e de saída convenientemente projetados para possibilitar que o afluente e o efluente escoem normalmente;
  • Altura entre a entrada e a saída suficiente para reter a gordura, evitando o arraste do material juntamente com o efluente;
  • Vedação adequada para evitar a penetração de insetos, pequenos animais, águas de lavagem de pisos ou de águas pluviais, etc;
  • Perfeitamente impermeável, munida de dispositivo adequado de inspeção e fecho hermético.

Caixas e dispositivos de inspeção

Os dispositivos de inspeção são peças ou recipientes que possui em diversas funções, entre elas: permitir a inspeção, limpeza, desobstrução, junção, mudanças de declividade ou de direção das tubulações.

Instruções técnicas importantes

O interior das tubulações deve ser acessível por intermédio de dispositivos de inspeção para evitar obstruções.

Para garantir tal acessibilidade aos elementos do sistema, devem ser respeitadas no mínimo as seguintes condições:

  • A distância máxima permitida entre duas caixas de inspeção é 25m;
  • A distância máxima permitida entre a ligação do coletor predial e a caixa de inspeção mais próxima é 15m;
  • Os comprimentos máximo permitido dos trechos dos ramais de descarga e de esgoto, ou melhor, a máxima distância entre os vasos sanitários, as caixas de gordura, as caixas sifonadas e as caixas de inspeção é de 10m;
  • Em prédios com mais de dois pavimentos, as caixas de inspeção não devem ser instaladas a menos de 2m de distância dos tubos de queda que contribuem para elas.
Distâncias recomendadas para os elementos de inspeção.
Distâncias recomendadas para os elementos de inspeção

Os desvios, as mudanças de declividade e a junção de tubulações enterradas devem ser feitos mediante o emprego de caixas de inspeção ou poços de visita.

E os dispositivos de inspeção devem ser instalados junto às curvas dos tubos de queda, de preferência à montante das mesmas, sempre que elas forem inatingíveis por dispositivos de limpeza introduzidos pelas caixas de inspeção ou pelos demais pontos de acesso.

Características dos dispositivos de inspeção

  • Abertura suficiente para permitir as desobstruções com a utilização de equipamentos para limpeza;
  • Quando embutidos em paredes no interior de residências, escritórios, áreas públicas, não devem ser instalados com as tampas salientes;
  • Perfeitamente impermeáveis e munidos de tampa hermética removível.

 

Pois bem pessoal, esses foram alguns dos elementos do subsistema de coleta e transporte de esgoto sanitário predial. Esperamos que este post tenha lhe ajudado.

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Aguarde nosso próximo post de Instalações Sanitárias sobre ventilação. E se ainda ficou com alguma dúvida, comente aqui embaixo.

 

 

8 comentários em “Instalações sanitárias: coleta e transporte de esgoto predial”

  1. Instalação de esgoto predial, instalação de água, quem faz esse projeto em prédios e casas é o engenheiro civil ou engenheiro sanitarista e ambiental?

    Responder
  2. Bom dia !!
    Eu sou encarregado de Edificações de um Centro Empresarial em São Paulo.
    Tenho uma dúvida, as tubulações da rede de esgoto dos banheiros que temos são de ferro fundido e estamos passando por reforma dos wc.s do Piso Shopping, onde estão substituindo parcialmente as tubulações para pvc “CLR”.
    Procurei na norma ABNT a especificação de material destas tubulações e não encontrei !!!
    Há alguma norma que informa que materiais devemos utilizar na rede de esgoto em instalações prediais ???

    Responder
    • Oi, Renato, creio que o catálogo de esgoto da Tigre tem algumas especificações que podem lhe ajudar, mas não sei se é exatamente isso que você procura.

      Responder
  3. Dandara, te agradeço muito.
    Sou estudante de Engenharia Civil, e digo que o seu site está ajudando demais. Material super completo, de fácil entendimento, sucinto e prático. Obrigado.

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