Se você já nos acompanha deve ter percebi a importância que damos a resolução de exercícios para o aprendizado. Julgamos ser uma excelente forma de consolidar o conhecimento.
Nessa publicação vamos aproveitar o que estudamos sobre repartição da força de arrasto em estruturas de concreto armado para continuarmos um exercício já iniciado anteriormente. O objetivo do exercício é repartirmos a Força de Arrasto apenas para uma das direções, deixando a outra para você fazer sozinho como forma de estudo.
Apresentação do problema
Até então, nós calculamos a pressão dinâmica em cada pavimento de um edifício com as dimensões em planta 20 m x 30 m e 18 m de altura. Agora, além das dimensões de base, para distribuirmos a Força de Arrasto também precisaremos alocar e pré-dimensionar os pilares e vigas.
A figura abaixo apresenta um arranjo para o pré-dimensionamento dos pilares, em que foram consideradas as dimensões 20 cm x 80 cm para os pilares centrais, 20 cm x 50 cm para os pilares laterais e 20 cm x 40 cm para os pilares de canto. Todas as vigas foram consideradas com as dimensões de 20 cm x 50 cm.
Caso tenha interesse em estimar também os elementos de sua estrutura, recomendo que confira nossa conteúdo sobre pré-dimensionamento de vigas, pilares e lajes.
Tenho mais uma vantagem para você, caso prefira, ainda pode conferir a resolução pelo vídeo abaixo:
Força de Arrasto do Vento
Para calcular a força de arrasto na estrutura, temos que obter inicialmente o coeficiente de arrasto para as duas direções. Na nossa edificação vamos considerar que atua um vento de alta turbulência.
Coeficiente de Arrasto
Nessa resolução faremos apenas o vento incidindo na direção da maior fachada, ou seja, considerando \mathrm{l_1 = 30}.
\mathrm{\dfrac{l_1}{l_2} = \dfrac{30}{20} = 1,5}
\mathrm{\dfrac{h}{l_1} = \dfrac{18}{30} = 0,6}
Ao entrar no ábaco para alta turbulência, chegamos na seguinte situação:
Assim sendo, como o ponto encontrado está entre as curvas 1,0 e 0,9, podemos ou utilizar o maior valor ou interpolar linearmente os valores. No nosso exemplo, utilizarei o valor de 0,95, que é uma interpolação aproximada.
Apenas para facilitar o acompanhamento dessa publicação, vou repetir as pressões dinâmicas em cada pavimento encontradas no exercício anterior:
Agora utilizaremos a formulação abaixo para calcular a Força de Arrasto aplicada em cada pavimento.
\mathrm{F_a = C_a \cdot q \cdot A_e}
Área efetiva
O valor da área efetiva para o vento atuando na maior fachada vale o produto entre essa largura e o pé-direito do edifício. A figura abaixo destaca a área efetiva para o último pavimento e para o nível +9,0 m (que é similar aos demais).
\mathrm{A_e = 30 \cdot 3 = 90 \; m^2}
Vale chamar atenção que o último pavimento possui uma área efetiva menor que os demais, devido a ter uma altura efetivo pela metade.
Agora devemos multiplicar cada um dos valores acima pelo coeficiente de arrasto e por sua área efetiva (esta só irá variar no último pavimento). A tabela abaixo apresenta a força horizontal do vento que atua em cada pavimento naquela direção.
z (m) | \mathrm{F_a \; (kN)} |
---|---|
3,0 | 23,9 |
6,0 | 29,1 |
9,0 | 31,6 |
12,0 | 34,2 |
15,0 | 35,9 |
18,0 | 18,8 |
Apenas para melhorar o entendimento, vou repetir a mesma informação no formato de figura.
Apesar da figura acima apresentar um pórtico, o valor destacado atua em toda a estrutura naquele pavimento.
Repartição da ação do vento
Analisando a estrutura em questão percebemos que, na direção analisada, temos a presença de dois pórticos diferentes. O pórtico de extremidade se repete duas vezes e o pórtico central se repete quatro vezes, vide figura abaixo.
Análise dos Pórticos no Ftool
Os dois pórticos foram lançados no Ftool e submetidos a uma força horizontal de 100 kN no último pavimento (nó 31 da figura abaixo). Todas as barras dos dois pórticos foram lançadas com o mesmo módulo de elasticidade e as inércias correspondendo as dimensões reais do pilar.
Para o pórtico de extremidade obtivemos um deslocamento no nó 35 de 15,95 mm e para o pórtico intermediário obtivemos um deslocamento, no mesmo nó, de 12,79 mm.
Aqui podemos partir para uma abordagem diferente da realizada com o processo de pilar equivalente. Como aplicamos a mesma força arbitrária e utilizamos o mesmo módulo de elasticidade, podemos calcular a proporção da força que vai para cada pórtico simplesmente pela proporção dos deslocamentos.
Repartição da Força de Arrasto
Vamos à prática calculando a relação entre os deslocamentos:
\mathrm{\dfrac{15,95}{12,79} = 1,247}
Se com o mesmo módulo de elasticidade e a mesma força horizontal arbitrária o pórtico de extremidade apresentou um deslocamento 24,7% superior ao pórtico central, este portanto, é 24,7% mais rígido do que o de extremidade.
Lembre-se que, essa força arbitrária que aplicamos e o deslocamento que obtivemos servem apenas para analisar a rigidez do pórtico como um todo. Na realidade, nem a força é de 100 kN condiz com a realidade nem os deslocamentos são diferentes entre os pórticos (devido ao efeito de diafragma rígido e a desconsideração da torção do edifício).
Dessa forma, vamos pensar o seguinte: se o pórtico central é 24,7% mais rígido que o pórtico de extremidade e assumndo que todos os pórticos no mesmo pavimento tem o mesmo deslocamento, o pórtico central tem que absorver 24,7% mais força que o pórtico de extremidade.
Logo, considerando a força que será aplicada apenas em um pórtico de extremidade como \mathrm{F^*}, a força a ser aplicada em um pórtico central será \mathrm{1,247 \cdot \; F^*}.
Assim sendo, a figura abaixo resume a proporção das forças absorvida entre os pórticos.
Consideramos aqui uma força qualquer \mathrm{F} como a força de arrasto de um pavimento, uma vez que temos várias forças de arrasto diferente (uma por pavimento), mas queremos apenas a distribuição entre os pórticos.
\mathrm{4 \cdot \left( 1,247 \cdot F^* \right) + 2 \cdot F^* = F}
\mathrm{F^* = 0,143 \cdot F}
Resultado da distribuição da ação do vento
Ou seja, após distribuir a Força de Arrasto, cada pórtico de extremidade recebe 14,3% do total e cada pórtico central recebe 17,85% da força de arrasto total.
Agora sim, podemos montar uma tabela com as forças a serem aplicada em cada pórtico e cada pavimento:
z (m) | \mathrm{F_a \; (kN)} | Força no pórtico de extremidade (kN) | Força no pórtico central (kN) |
---|---|---|---|
3,0 | 23,9 | 3,42 | 4,27 |
6,0 | 29,1 | 4,16 | 5,19 |
9,0 | 31,6 | 4,52 | 5,64 |
12,0 | 34,2 | 4,89 | 6,10 |
15,0 | 35,9 | 5,13 | 6,41 |
18,0 | 18,8 | 2,69 | 3,36 |
Recado final
Parabéns por ter chegado até essa quarta publicação sobre ação do vento em estruturas. Com certeza agora você está mais um passo a frente no seu nível de conhecimentos sobre dimensionamentos de estruturas.
O próximo passo para esse assunto é estudar maneiras mais diretas para repartição das cargas de vento e também análises mais realistas, considerando a torção do edifício.
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