Agora que você já teve contato com a teoria sobre o cálculo da ação do vento em estruturas, nada melhor que partirmos para um exemplo prático para consolidarmos esse conhecimento. Recomendo que você leia o conteúdo anterior com a teoria antes de avançar nessa publicação.
Apresentação do problema
Nesse exercício, vamos considerar a construção de uma edifício residencial, localizado no estado do Piauí, com dimensões em planta de 20 m por 30m e 18 m de altura, conforme ilustra a figura abaixo.
A edificação será construída em Teresina, capital do estado, em terreno fracamente acidentado.
Caso você prefira, pode acompanhar essa resolução também pelo vídeo abaixo:
Velocidade básica do vento
Como já comentado na teoria, a velocidade básica do vento é retirada da imagem com as isopletas presente na norma ABNT/NBR: 6123 (1988). Para facilitar acompanhar essa publicação, repetirei aqui as imagens e tabelas utilizadas durante a teoria.
Como todo o estado do Piauí se encontra entre duas isopletas de 30, teremos como velocidade básica do vento \mathrm{V_0 = 30 \; m/s}.
A sua edificação pode estar localizada em uma região encontrada entre isopletas de valores diferentes. Nesse caso, você deve optar ou por utilizar o maior dos valores ou interpolar linearmente os valores encontrados.
Fatores para velocidade característica
Vamos analisar agora os fatores para transformar a velocidade básica (medida em condições iguais em todo o país) para velocidade característica, a fim de adaptar a velocidade básica para a edificação em questão.
Fator topográfico
Como a edificação será executada em um terreno fracamente acidentado, consideraremos o fator topográfico como \mathrm{S_1 = 1,0}.
Fator de \mathrm{S_2}
Vamos analisar primeiro a influência da rugosidade do terreno no fator \mathrm{S_2}. Com a edificação localizada em zona urbana, considerando uma cota média dos obstáculos de 10,0 m, utilizaremos a categoria IV.
Vale chamar atenção que quanto menor a categoria, maior a ação do vento aplicada e, dessa forma, mais a favor da segurança estaremos. Assim sendo, dentro de zonas urbanas, surge a dúvida entre utilizar a categoria IV ou a categoria V. Na dúvida, recomendo utilizar a categoria IV.
Em relação as dimensões da edificação, temos que a maior das dimensões (tanto verticalmente quanto horizontalmente) vale 30,0 m. Assim sendo, classificaremos a edificação como classe B, em que a maior dimensão varia de 20 a 50 m.
Agora que já definimos a categoria do terreno e a classe da edificação, basta entrarmos na tabela fornecida na norma e encontrarmos os valores de \mathrm{b}, \mathrm{p} e \mathrm{F_r}.
Analisando a tabela, consideraremos \mathrm{b=0,85}, \mathrm{p=0,125} e \mathrm{F_r=0,98}. Observe que, o valor de \mathrm{F_r} sempre é obtido na linha da categoria II, variando apenas com a classe da edificação.
Aplicando agora a formulação de \mathrm{S_2} em relação a cota z, temos:
\mathrm{S_2 = b \cdot F_r \cdot \left( \dfrac{z}{10} \right) ^p}
\mathrm{S_2 = 0,85 \cdot 0,98 \cdot \left( \dfrac{z}{10} \right) ^{0,125}}
Agora vamos aplicar a formulação acima para cada um dos níveis (3, 6, 9, 12, 15, 18):
z (m) | \mathrm{S_2 \; (z)} |
---|---|
3,0 | 0,72 |
6,0 | 0,78 |
9,0 | 0,82 |
12,0 | 0,85 |
15,0 | 0,88 |
18,0 | 0,90 |
De maneira geral, não teremos problemas com os limites de \mathrm{z_g}, uma vez que são bem superiores a altura dos edifícios usuais.
Fator estatístico
O fator estatístico \mathrm{S_3} depende apenas da utilização da edificação, conforme ilustra a tabela abaixo:
No nosso caso, por se tratar de uma edificação residencial, utilizaremos \mathrm{S_3 = 1,0}.
O entendimento do fator estatístico é simplesmente perceber o dano que o edifício pode causar em múltiplas pessoas caso venha a ruína.
Velocidade característica
Agora que já encontramos a velocidade básica do vento e todos os fatores, podemos obter agora a velocidade característica. Uma vez que calculamos o fator \mathrm{S_2} para cada nível de laje, faremos o mesmo com a velocidade característica do vento. Utilizaremos a seguinte formulação para o cálculo da velocidade característica:
\mathrm{V_k = V_0 \cdot S_1 \cdot S_2 \cdot S_3}
Substituindo os valores que não variam com altura, teremos:
\mathrm{V_k \; (z)= 30 \cdot 1,0 \cdot S_2 \; (z) \cdot 1,0}
\mathrm{V_k \; (z)= 30 \cdot S_2 \; (z)}
Substituindo os valores de \mathrm{S_2} para cada cota, teremos uma tabela contendo a velocidade característica para cada nível:
z (m) | \mathrm{V_k \; (z) \; (m/s)} |
---|---|
3,0 | 21,50 |
6,0 | 23,44 |
9,0 | 24,66 |
12,0 | 25,57 |
15,0 | 26,29 |
18,0 | 26,90 |
Pressão dinâmica do vento
Por fim, utilizaremos a velocidade característica a cada nível para obtermos a pressão dinâmica atuante em também em cada pavimento. Basta aplicarmos a formulação obtida com o teorema de Bernoulli:
\mathrm{q_{vento} = 0,613 \cdot V_k ^2}
z (m) | \mathrm{q_{vento} \; (z) \; (kN/m^2)} |
---|---|
3,0 | 0,28 |
6,0 | 0,34 |
9,0 | 0,37 |
12,0 | 0,40 |
15,0 | 0,42 |
18,0 | 0,44 |
A figura abaixo resume as pressões dinâmicas que iremos aplicar em cada nível do nosso edifício:
Recado final
Ao final desse post você calculou, na prática, a pressão dinâmica do vento em diversos pavimentos de um edifício residencial localizado no Piauí. O próximo passo é transformarmos essa pressão dinâmica em uma força estática a ser aplicada em nosso modelo estrutural.
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Gostei muito da forma de apresentação do conteúdo
Obrigado!