Você já conhece o método de Schmertmann para estimativa de recalque em solos arenosos?
Caso a resposta seja negativa, eu aconselho você a dar uma pausa nesse post e ler, inicialmente, nosso post com toda a teoria a respeito desse método!
Mas se você já conhece, vamos direto ao ponto.
Nesse post, resolveremos juntos um mesmo exercício pra os dois métodos de Schmertmann: 1970 e 1978. Dessa forma, além de aprender a utilização de ambos os métodos, iremos discutir as diferenças entre eles.
Você pode acompanhar o conteúdo também através do vídeo que preparamos pra você!
Então, vamos direto à questão!
Exercício proposto
Estime o recalque imediato da sapata indicada na figura abaixo. A sapata é rígida e quadrada, com B=L=2,0m, apoiada na cota de -1,0m, que aplica no solo uma tensão de 0,25 MPa.
Resolução pelo método de Schmertmann (1970)
Bem, relembrando o método de Schmertmann (1970), apresentado anteriormente no post com a teoria, temos que a fórmula geral para a utilização desse método é:
\mathrm{\displaystyle\rho_d=C_1\cdot C_2\cdot\sigma^*\cdot \sum_{i=1}^{n} \left(\dfrac{I_z}{E_s}\cdot \Delta_z \right)_i}
Onde:
- \mathrm{\displaystyle\rho_d}: recalque total;
- \mathrm{\displaystyle {I_z}}: fator de influência à meia altura da i-nésima camada;
- \mathrm{\displaystyle {E_s}}: módulo de deformabilidade da i-nésima camada;
- \mathrm{\displaystyle\Delta_z}: espessura da i-nésima camada;
Então, vamos determinar cada termo da fórmula!
Cálculo de \mathrm{\displaystyle C_1}
Para considerar o embutimento da fundação no cálculo de recalque por meio do Método de Schmertmann, utilizaremos o coeficiente C1, que pode ser determinado através da seguinte formulação:
\mathrm{C_1=1-0,5\cdot\dfrac{q}{\sigma^*}\geq 0,5}
Onde:
- \mathrm{q}: tensão vertical efetiva na cota de apoio da fundação;
- \mathrm{\sigma*}: tensão líquida aplicada pela fundação (\mathrm{\sigma*=\sigma-q})
Como o peso específico da areia em questão é \mathrm{\gamma=17 kN/m^3}, temos que a tensão vertical efetiva na cota de apoio é:
\mathrm{q=17\cdot1,0=17kN/m^2}
Então, podemos afirmar que a tensão líquida vale:
\mathrm{\sigma^*=250 kN/^2-17kN/m^2=233kN/m^2}
Logo:
\mathbf{C_1=1-0,5\cdot\dfrac{17}{233}=0,96}
Cálculo de \mathrm{\displaystyle C_2}
O coeficiente de correção C2 é utilizado para levarmos em conta a ação do tempo no recalque de uma fundação.
Como, para o exemplo em questão, queremos determinar apenas o recalque imediato, podemos assumir que \mathbf{C_2=1,0}.
Cálculo de \mathrm{\displaystyle E_s}
para a estimativa do módulo de deformabilidade podemos usar a formulação simples de Teixeira e Godoy, que associam tal parâmetro com o índice Nspt do solo. A formulação é a seguinte:
\mathrm{E_s=\alpha\cdot K \cdot Nspt}
Onde \mathrm{\alpha} e K variam de acordo com o solo e podem ser obtidos através das tabelas abaixo.
Solo |
\mathrm{\alpha} |
Areia |
3 |
Silte |
5 |
Argila |
7 |
Solo |
K (MPa) |
Areia com pedregulhos |
1,1 |
Areia |
0,9 |
Areia siltosa |
0,70 |
Areia argilosa |
0,55 |
Silte arenoso |
0,45 |
Silte |
0,35 |
Argila arenosa |
0,30 |
Silte argiloso |
0,25 |
Argila siltosa |
0,20 |
Então, para o solo em questão temos:
\mathrm{E_s=3\cdot 0,9 \cdot Nspt}
\mathbf{E_s=2,7\cdot Nspt (MPa)}
Cálculo de \mathrm{\displaystyle I_z}
Para a determinação do fator de influência \mathrm{\displaystyle I_z} no método de Schmertmann (1970) utilizamos o seguinte gráfico:
Substituindo para o valor da largura de nossa sapata B=2,0m, temos a configuração apresentada na figura abaixo.
Então, podemos montar uma tabela com os valores de Iz. Lembrando que, para compatibilização de unidades, podemos usar os valores de tensão em MPa e os de comprimento em mm. Logo, temos:
Camada | \mathrm{\Delta_z}(mm) | Iz | Nspt | Es (MPa) | Iz.Az/Es |
1 | 1000 | 0,3 | 10 | 27 | 11,11 |
2 | 1000 | 0,5 | 12 | 32,4 | 15,43 |
3 | 1000 | 0,3 | 15 | 40,5 | 7,41 |
4 | 1000 | 0,1 | 15 | 40,5 | 2,47 |
Então, temos todos os dados para aplicar a formulação de Schmertmann (1970).
\mathrm{\displaystyle\rho_d=C_1\cdot C_2\cdot\sigma^*\cdot \sum_{i=1}^{n} \left(\dfrac{I_z}{E_s}\cdot \Delta_z \right)_i}
\mathrm{\displaystyle\rho_d=0,96\cdot 1,0\cdot0,233\cdot (11,11+15,43+7,41+2,47)}
\mathbf{\displaystyle\rho_d=8,15 mm}
Ou seja, o recalque imediato estimado pelo método de Schmertmann (1970) para a sapata apresentada na questão é de 8,15 mm.
[formulario-recalque]Resolução pelo método de Schmertmann (1978)
O método de Schmertmann de 1978 é um aprimoramento da metodologia anterior. Tal metodologia veio para substituir o método de 1970.
A principal mudança do método de Schmertmann de 1978 para o de 1970 é a determinação do fator de influência Iz. A nova metodologia apresenta novos gráficos para a determinação desse fator, conforme a figura abaixo.
Ou seja, a formulação para o método de 1978 é igual a do método de Schmertmann de 1970. Então, utilizaremos os mesmos valores de C1, C2, \mathrm{\sigma*} e Es já calculados no exemplo anterior.
Iremos apenas calcular diferentes fatores de Iz. Então, o valor de \mathrm{I_{zmáx}} para tal método é calculado como:
\mathrm{I_{zmáx}=0,5+0,1\cdot\sqrt{\dfrac{\sigma^*}{\sigma_v}}}
Onde:
- \mathrm{{\sigma_v}}: tensão vertical efetiva na profundidade correspondente a \mathrm{I_{zmáx}};
Sabemos que nossa sapata apresenta \mathrm{I_{zmáx}} a uma profundidade de 2,0m, logo, para essa profundidade, temos que a tensão vertical efetiva vale:
\mathrm{\sigma_v=\gamma\cdot h}
\mathrm{\sigma_v=17 kN/m^3\cdot2,0m}
\mathrm{\sigma_v=34 kN/m^2=0,034MPa}
Logo:
\mathrm{I_{zmáx}=0,5+0,1\cdot\sqrt{\dfrac{0,233}{0,034}}}
\mathrm{I_{zmáx}=0,76}
Chegamos então ao seguinte gráfico de Iz.
Podemos então, agora, elaborar outra tabela com os valores respectivos de Iz para cada camada:
Camada | \mathrm{\Delta_z}(mm) | Iz | Nspt | Es (MPa) | Iz.Az/Es |
1 | 1000 | 0,43 | 10 | 27 | 15,93 |
2 | 1000 | 0,63 | 12 | 32,4 | 19,44 |
3 | 1000 | 0,38 | 15 | 40,5 | 9,38 |
4 | 1000 | 0,12 | 15 | 40,5 | 2,96 |
Pronto! Agora basta aplicarmos a formulação do método de Schmertmann!
\mathrm{\displaystyle\rho_d=C_1\cdot C_2\cdot\sigma^*\cdot \sum_{i=1}^{n} \left(\dfrac{I_z}{E_s}\cdot \Delta_z \right)_i}
\mathrm{\displaystyle\rho_d=0,96\cdot 1,0\cdot0,233\cdot (15,93+19,44+9,38+2,96)}
\mathbf{\displaystyle\rho_d=10,67 mm}
Ou seja, o recalque imediato estimado para a mesma fundação, aplicando agora o método de Schmertmann de 1978 é de 10,67mm.
Estimando o recalque ao longo do tempo
Segundo estudos, em solos arenosos o recalque imediato é responsável pela grande parcela do recalque total do solo.
Porém, podemos estimar esse recalque ao longo do tempo!
Na resolução do nosso exercício, nos atemos a determinar o recalque imediato, logo assumimos o fator C2=1,0.
Para estimarmos os recalques ao longo do tempo para ambos os casos, basta apenas calcularmos C2 para um intervalo de tempo que se deseja estimar o recalque e multiplicar pelo valor de recalque imediato encontrado.
Temos então a seguinte formulação para a determinação de C2.
\mathrm{C_2=1+0,2\cdot log\left(\dfrac{t}{0,1}\right)}
Onde:
- t: tempo em anos.
Ou seja, vamos determinar agora o valor de C2 para um tempo arbitrado de 5 anos.
\mathrm{C_2=1+0,2\cdot log\left(\dfrac{5}{0,1}\right)}
\mathrm{C_2=1,34}
Ou seja, matematicamente isso quer dizer que há, em 5 anos, um acréscimo de 34% de recalque nessa fundação. Logo teremos para ambos os casos analisados.
- Método de Schmertmann (1970): foi encontrado um recalque imediato de 8,15 mm, logo temos que o recalque estimado ao final de 5 anos será de 10,92 mm.
- Método de Schmertmann (1978): foi encontrado um recalque imediato de 10,67 mm, logo temos que o recalque estimado ao final de 5 anos será de 14,30 mm.
Pronto! Viu como não foi difícil utilizar o método de Schmertmann?
Espero que você tenha gostado! Se ainda ficou alguma dúvida, deixa nos comentários que a gente te responde!
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Até a próxima!
Engenheiro Civil, Especialista em Estruturas e Fundações. Ex-goleiro, Pseudosommelier de Cervejas e Poeta Freelancer Fajuto.
Fiquei com uma dúvida no C1, na formulação diz que ele tem que ser menor ou igual a 0,5, mas aqui está com 0,96…
entendo que esse coeficiente de embutimento não se aplicou a formulação..
poderia me esclarecer?
Bom dia, Viviane! Tudo bem?
Se você prestar atenção, na verdade o C1 não pode ser inferior a 0,5, ou seja, C1>=0,5, por isso podemos utilizar o valor de 0,96.
Caso tenha ficado ainda alguma dúvida, pode colocar aqui!
Abraço.
Bom dia. No método de 1978 você afirmou que o Iz máximo está a 2m. Por quê? Não seria a 1m? Pois é o equivalente a cota B/2, sendo B = 2.
Depois de ter feito a pergunta e revisto o desenho entendi haha obrigado
Tudo bem kkkkkkk
O importante é que você tenha entendido!
Abraço!
Boa noite!
Eu fiquei com uma dúvida sobre o Nspt, porque você só considerou as primeiras 4 camadas abaixo da sapata?
E se tivesse mais camadas, como é um caso de um exercício que estou fazendo, como ficaria?
Obrigada desde ja!
Boa noite, Daniele!
Pelo “gráfico” de Iz, perceba que a profundidade máxima de influência é de 2B, onde B é a largura da sua sapata.
Então, como nossa sapata tem 2m x 2m, considerei até 4m abaixo da cota de assentamento.
Lembre que isso é condizente com o que já vimos sobre bulbo de tensões!
Espero ter ajudado. Abraço!
Boa tarde Filipe!
Como você encontrou os valores de Iz das tabelas?
Obrigado