No nosso post anterior sobre Superlargura, explicamos o que é e como devemos calcula-lá e distribuir na curva. Portanto, se você ainda não leu esse post, recomendamos que dê uma rápida olhada antes de começarmos.
Agora, vamos solidificar o que foi aprendido sobre Superlargura até o momento. Para tanto, propomos um exemplo prático bem simples. Confira abaixo!
Exemplo prático
Você é responsável por um projeto rodoviário e necessita realizar a superlargura de uma curva horizontal com transição utilizando o ônibus como veículo de projeto.
Sabe-se que o estaqueamento dessa estrada é feito a cada 20 m, sua largura é de 6,6 m, abaulamento de 3% e sua velocidade diretriz é 80 km/h.
DADOS ADICIONAIS DA CURVA:
- le = 170 m
- TS = 216 + 13,67 m
- SC = 225 + 3,67 m
- CS = 231 + 19,10 m
- ST = 240 + 9,10 m
RESOLUÇÃO:
Passo 01: verificar a necessidade de superlargura
O primeiro passo será verificarmos se a superelargura será necessária nesse caso. Para isso, os valores de raio mínimo para que ela seja necessária são expressos na tabela abaixo:
Tabela 1 – Valores dos raios acima dos quais é dispensável a superlargura
Sabemos que o nosso veículo de projeto é um ônibus e se enquadra na categoria CO (veículo comercial rígido). Além disso, a largura básica da pista é 6,6 m, a velocidade diretriz é 80 km/h e o raio é 500 m.
Desse modo, o raio máximo para a superlargura nessa estrada é 1000 m > 500 m. Então podemos afirmar que a superlargura para essa curva será necessária.
Passo 02: Calcular a superlargura
Para o cálculo da superlargura iremos precisar das dimensões do veículo de projeto, do valor da folga lateral (tabela abaixo) e das características da pista.
Tabela 2 – Valores da folga lateral do veículo
De posse de todas as informações necessárias, a superlargura será então calculada conforme a equação abaixo, lembrando que seu valor deverá ser um múltiplo de 0,20 m:
\mathrm{S=2\left(L+\dfrac{b^2}{2R}+G_L\right)+\sqrt{R^2+F.(2b)}+...}
\mathrm{...+\dfrac{V}{10\sqrt{R}}-R-L_B}
\mathrm{S=2\left(2,6+\dfrac{7,6^2}{2.500}+0,75\right)+\sqrt{500^2+2,4.(2.7,6)}+...}
\mathrm{...+\dfrac{80}{10\sqrt{500}}-500-6,6}
\mathrm{S=0,61\:m}
\mathrm{\mathbf{S=0,60\:m}}
Passo 03: Distribuir a superlargura na curva
Agora que já calculamos a superlargura para o projeto, o próximo passo será distribuí-la ao longo da curva horizontal com transição.
Primeiro trecho: estaca TS a SC (espiral)
O primeiro trecho da distribuição é o primeiro ramo da espiral de transição, que vai da estaca TS a SC e mede le.
Dessa forma, a distribuição da superlargura nesse trecho vai de zero a S/2 (para cada lado) ao longo do comprimento le, de acordo com a equação abaixo:
\mathrm{x=\dfrac{S}{2.le}\cdot{l}}
Além disso, nesse trecho, o estaqueamento será feito a cada 10 m, pois le >60 m.
- Estaca 216+13,67 m (TS)
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{0}=0,000\:m}
- Estaca 217+3,67 m
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{10}=0,018\:m}
- Estaca 217+13,67 m
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{20}=0,035\:m}
(…)
- Estaca 225+3,67 m (SC)
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{170}=0,300\:m} [ebook-projetos-rodoviarios]
Segundo trecho: estaca SC a CS (curva circular)
Para esse trecho não é necessário calcular a superlargura, pois ela se mantém 0,30 m para ambos os lados, da estaca SC até a estaca CS.
Terceiro trecho: estaca CS a ST (espiral)
Para esse trecho, o raciocínio é semelhante ao primeiro trecho, mas de maneira inversa. Isso quer dizer que a superlargura em cada uma das estacas desse trecho diminui até chegar a zero.
- Estaca 231+19,10 m (CS)
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{170}=0,300\:m}
- Estaca 232+9,10 m
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{160}=0,282\:m}
- Estaca 232+19,10 m
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{150}=0,265\:m}
(…)
- Estaca 240+9,10 m (ST)
\mathrm{x=\dfrac{0,60}{2.170}\cdot{0}=0,00\:m}
Resultado
Reunindo todos os trechos calculados anteriormente, o resultado final da distribuição da superlargura é o seguinte:
Tabela 3 – Resultado da distribuição da superlargura na curva
Estacas | Superlargura (m) | ||
Inteira | Fracionária | ||
TS | 216 | 13,67 m | 0,000 |
217 | 3,67 m | 0,018 | |
217 | 13,67 m | 0,035 | |
218 | 3,67 m | 0,053 | |
218 | 13,67 m | 0,071 | |
219 | 3,67 m | 0,088 | |
219 | 13,67 m | 0,106 | |
220 | 3,67 m | 0,124 | |
220 | 13,67 m | 0,141 | |
221 | 3,67 m | 0,159 | |
221 | 13,67 m | 0,176 | |
222 | 3,67 m | 0,194 | |
222 | 13,67 m | 0,212 | |
223 | 3,67 m | 0,229 | |
223 | 13,67 m | 0,247 | |
224 | 3,67 m | 0,265 | |
224 | 13,67 m | 0,282 | |
SC | 225 | 3,67 m | 0,300 |
226 | 0,300 | ||
227 | 0,300 | ||
228 | 0,300 | ||
229 | 0,300 | ||
230 | 0,300 | ||
231 | 0,300 | ||
CS | 231 | 19,10 m | 0,300 |
232 | 9,10 m | 0,282 | |
232 | 19,10 m | 0,265 | |
233 | 9,10 m | 0,247 | |
233 | 19,10 m | 0,229 | |
234 | 9,10 m | 0,212 | |
234 | 19,10 m | 0,194 | |
235 | 9,10 m | 0,176 | |
235 | 19,10 m | 0,159 | |
236 | 9,10 m | 0,141 | |
236 | 19,10 m | 0,124 | |
237 | 9,10 m | 0,106 | |
237 | 19,10 m | 0,088 | |
238 | 9,10 m | 0,071 | |
238 | 19,10 m | 0,053 | |
239 | 9,10 m | 0,035 | |
239 | 19,10 m | 0,018 | |
ST | 240 | 9,10 m | 0,000 |
Pois bem pessoal, essas foram algumas considerações sobre a implantação da superlargura em um projeto rodoviário, mas não para por aqui! Confira agora o super e-Book gratuito sobre Projeto Rodoviário que nós preparamos pra você.
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Fonte:
ALBUQUERQUE, Marcos. Superlargura. Teresina: UFPI, 2017.
MACEDO, Edivaldo Lins. Noções de Topografia Para Projetos Rodoviarios. 2008. Disponível em: <http://www.topografiageral.com/>. Acesso em: 12 set 2019.
Engenheira Civil pela Universidade Federal do Piauí, engenheira de obra, perita judicial e pós-graduanda em Avaliação, Auditoria e Perícias de Engenharia.
Apenas uma correção: essas foram considerações sobre superlargura e não superelevação, que é na vertical.
Muito obrigada pela observação, Marcos. Já foi corrigido!