Você achou que não teríamos exercício resolvido sobre tensão admissível para sapatas?
Achou errado!
Neste post, aplicaremos todo o conteúdo apresentado no post sobre a teoria de tensão admissível para sapatas. Vamos apresentar um exemplo prático para que você possa aprender a aplicação de todas as formulações apresentadas.
Vamos lá?
Apresentação do problema
Vamos imaginar que você está elaborando o projeto de fundações de uma edificação. Então, o mínimo que você deve ter em mãos, além das solicitações advindas da superestrutura é o laudo de sondagem local.
Então, vamos supor que perfil geotécnico de um dos furos de sondagem é o apresentado a seguir.
Então, a partir desse perfil, calcularemos agora pelo método de Terzaghi e correlações semi-empíricas a tensão admissível para uma sapata de 1,0 m x 1,0 m assentada a 2,0 metros de profundidade.
Vale ressaltar, que para o cálculo a partir de algumas correlações semi-empíricas, a dimensão da fundação não é necessária, porém, para o cálculo pelo método de Terzaghi, utilizaremos tal dado.
Mas lembrando que o cálculo da tensão admissível sempre é necessário para o adequado dimensionamento das sapatas.
Tensão admissível pelo Método de Terzaghi
Como vimos no post sobre os métodos de determinação da tensão admissível, a formulação da capacidade de carga de Terzaghi para uma sapata isolada é:
\mathrm{{\sigma _R} = c {N_c} {S_c} + q {N_q} {S_q} + 0,5 \gamma B {N_\gamma } {S_\gamma }}
Onde:
- \mathrm{{\sigma _{R}}}: capacidade de carga do solo;
- c: coesão do solo;
- q: tensão efetiva no solo na cota de assentamento (\mathrm{q = \gamma \cdot h});
- \mathrm{{\gamma}}: peso específico do solo;
- B: dimensão da fundação;
- Ni: fatores de carga obtidos através do ângulo de atrito do solo;
- Si: fatores de forma da fundação.
O primeiro passo para a resolução pelo método de Terzaghi é determinar a coesão, o ângulo de atrito e o peso específico do solo.
O ideal seria a realização de ensaios para a determinação desses parâmetros. A nível acadêmico, podemos fazer uso de correlações para a determinação dos parâmetros. Nessa resolução utilizaremos a tabela abaixo, encontrada no material do Prof. Marangon.
Areias e solos arenosos | |||
Compacidade | \mathrm{\gamma}(kN/m³) | C (kN/m²) | \mathrm{\phi} (\mathrm{^o}) |
Fofa | 16,0 | 0 | 25-30 |
Pouco compacta | 18,0 | 0 | 30-35 |
Medianamente compacta | 19,0 | 0 | 35-40 |
Compacta | 20,0 | 0 | 40-45 |
Muito compacta | >20,0 | 0 | >45 |
Para um solo arenoso com Nspt igual a 10, a norma NBR 6484:2001 o classifica como medianamente compacto. Logo, iremos adotar para essa questão:
- coesão: 0,0;
- ângulo de atrito: 36 \mathrm{^o};
- peso específico: 19 kN/m³.
De posse do ângulo de atrito do solo, poderemos obter os fatores de carga.
Como estamos tratando de uma fundação assente a 2,0 metros de profundidade em um solo arenoso com Nspt equivalente a 10, podemos considerá-lo um solo de ruptura geral, logo, para ao usarmos o ábaco dado abaixo, utilizaremos as linhas cheias para a determinação dos fatores de carga.
Temos então:
- Nc = 46;
- Nq = 33;
- \mathrm{{N_{\gamma}}} = 42
Então, agora precisamos apenas dos fatores de forma para a aplicação da formulação do método de Terzaghi, Utilizando da tabela de fatores de forma abaixo, iremos adotar os valores dos fatores de forma correspondentes à linha da fundação quadrada.
Forma da fundação |
Fatores de forma |
||
Sc |
Sq |
Sγ |
|
Corrida |
1,0 |
1,0 |
1,0 |
Quadrada |
1,3 |
0,8 |
1,0 |
Circular |
1,3 |
0,6 |
1,0 |
Retangular |
1,1 |
0,9 |
1,0 |
Pronto, agora já temos todas as variáveis para a determinação da capacidade de carga pelo método de Terzaghi. Temos então:
\mathrm{{\sigma _R} = c {N_c} {S_c} + q {N_q} {S_q} + 0,5 \gamma B {N_\gamma } {S_\gamma }}
\mathrm{{\sigma _R} = 2\cdot 19,0 \cdot 33,0\cdot 0,8 +9,5\cdot 1,0\cdot 42,0 \cdot 1,0}
\mathrm{{\sigma _R} = 1402,2 kN/m²}
Vale perceber que a parcela correspondente a coesão na fórmula foi igualada a zero, devido a coesão nula adotada por se tratar de um solo arenoso.
[interesse-fundacoes-rasas]Vale lembrar também que tal formulação nos dá a capacidade de carga do solo, que é a tensão que leva o solo à ruptura ou deformação excessiva. A nível de projeto, é indicado sempre trabalharmos com a tensão admissível, que nada mais é do que a capacidade de carga dividida por um fator. Para métodos teóricos, temos:
\mathrm{{\sigma _{adm}} = \dfrac{{{\sigma _R}}}{3}}
Logo, para nossa questão, obtemos:
\mathrm{{\sigma _{adm}} = 467,4 kN/m²}
Agora, vamos resolver essa questão através das correlações empíricas e comparar com o valor encontrado para o método de Terzaghi.
Tensão admissível por métodos semi-empíricos
No post teórico sobre os métodos de determinação da tensão admissível, apresentamos três formulações que serão listadas a seguir:
Correlação 1 : \mathrm{{\sigma _{adm}} = \dfrac{{Nspt}}{{50}}\left( {MPa} \right)}
Correlação 2 (Teixeira-96) : \mathrm{{\sigma _{adm}} = 0,05 + \left( {1 + 0,4 \cdot B} \right)\dfrac{{Nspt}}{{100}}\left( {MPa} \right)}
Correlação 3 (Mello-75) : \mathrm{{\sigma _{adm}} = 0,1 \cdot \left( {\sqrt {Nspt} - 1} \right)\left( {MPa} \right)}
Como você percebe, são aplicações matemáticas simples, geralmente variando unicamente com o Nspt do solo na profundidade de assentamento adotada.
Aplicando o Nspt igual a 10, para a profundidade adotada de 2,0 metros, temos os seguintes resultados:
Correlação 1 : \mathrm{{\sigma _{adm}} = 0,2 MPa = 200 kN/m²}
Correlação 2 (Teixeira-96) : \mathrm{{\sigma _{adm}} = 0,19 MPa = 190 kN/m²}
Correlação 3 (Mello-75) : \mathrm{{\sigma _{adm}} = 0,216 MPa = 216 kN/m²}
Conclusão
Então, para uma sapata quadrada de 1,0 m x 1,0 m assentada a 2,0 metros de profundidade, determinamos a tensão admissível do conjunto sapata-solo através do método teórico de Terzaghi e por três formulações semi-empíricas.
Para o método de Terzaghi, encontramos o valor de \mathrm{{\sigma _{adm}}} = 467,4 kN/m². Já para as formulações semi-empíricas, a média dos valores encontrados foi de 202 kN/m².
Podemos concluir também que, para o perfil de solo analisado, os resultados da tensão admissível no solo para os três métodos semi-empíricos foram bem próximos, apresentando uma congruência entre as três formulações.
Já comparando o resultados obtidos pelos métodos semi-empíricos com o resultado obtido pelo método teórico de Terzaghi, podemos apontar uma grande discordância, sendo os métodos semi-empíricos bem mais conservadores para o perfil de solo analisado.
Vale ressaltar que esse é apenas um exemplo para a aplicação das formulações e melhor entendimento do conteúdo apresentado!
Espero que você tenha gostado do conteúdo e que você tenha conseguido tirar todas as suas dúvidas!
Nos próximos posts trataremos sobre o cálculo da tensão admissível do solo em solos estratificados e com a presença de água!
Caso você ainda tenha alguma dúvida sobre o post ou sugestões para temas futuros, deixa nos comentários que a gente responde!
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Até a próxima!
Engenheiro Civil, Especialista em Estruturas e Fundações. Ex-goleiro, Pseudosommelier de Cervejas e Poeta Freelancer Fajuto.
Muito bom!
Muito obrigado pelo feedback!
se a sapara tiver dimensões 1×2 devo adotar a menor dimensão para o valor de B ?
Sim, B é sempre o menor dimensão de uma Sapata.
Para a primeira formulação, não foi feito o cálculo do Bulbo. Apenas utilizado o NSPT de onde ele assenta a sapata.
na situação acima utiliza-se os resultados mais conservadores ou o método de terzaghi é confiável o suficiente?
Bom dia, Felipe. Eu sempre prefiro utilizar os resultados mais conservadores nos meus cálculos. Abraço!