Curva S: aplicando em gestão de projetos de engenharia

Conforme CASAROTTO (1995), a Curva S é um tipo de curva de carga, instrumento destinado ao acompanhamento periódico de seu andamento. Simples, não é mesmo?

É o que?!” – você pode ter pensado.

Calma! É claro que eu não resumiria um tópico tão interessante como esse em apenas uma frase. Por isso, fique tranquilo(a). Hoje, pretendo explicar de forma clara sobre o que vem a ser uma Curva S e como determina-la. Vale ressaltar que este tema guarda estrita relação com o assunto “Valor Agregado”.  Por isso, recomendo que leia a PARTE 01 e a PARTE 02, que tratam deste assunto importantíssimo para o sucesso da obra.

Está a fim de aprender como utilizar essa ferramenta nos seus projetos de engenharia? Então, beba uma água, ajeite-se na cadeira, – papel e caneta na mão, ok? – e fique comigo, porque nos próximos parágrafos te passarei tudo o que você precisa saber sobre Curva S.

Primeiramente, farei uma “Abordagem Inicial” apenas para te situar sobre as razões de se utilizar ferramentas como esta, em seguida, passaremos para os tópicos diretamente relacionados à Curva “S”.

Aliás, para complementar este artigo, separei este vídeo sobre o tema! Dá uma conferida.

Abordagem Inicial

O sucesso em projetos de Construção Civil caracteriza-se pela atuação permanente do gestor na programação e controle de seus empreendimentos. Portanto, a fim de alcançar uma boa administração, a necessidade de se adotar técnicas gerenciais apropriadas se torna evidente. Assim, por meio delas, buscam-se adequações a incertezas, inconstâncias de habilidades e recursos envolvidos e ciclo de vida.

Segundo Fayol, as seis funções básicas da administração são “Prever, Organizar, Comandar, Coordenar e Controlar”. Posteriormente, os adeptos da Teoria Neoclássica de Administração deram maior amplitude à primeira função, substituindo-a por “planejar”. Isso trouxe maior tangibilidade ao que antes se resumia a uma mera previsão sobre futuro.

A Administração de Projetos procura adaptar estas funções a um processo administrativo especial, caracterizado por um ciclo de vida: o projeto. Este é o nosso foco dentro da Construção Civil. Sendo mais claro, quando falo “projeto”, refiro-me desde a concepção abstrata (plantas, aprovações etc) à conclusão de uma obra.

Garantir que um projeto se desenvolva conforme planejado ao longo de seu ciclo de vida é nosso sonho de consumo! Não é mesmo? Para isso, precisamos controlar a evolução de nossos gastos, insumos e mão de obra.

As Curvas de Agregação são curvas que mostram a evolução de utilização de um ou mais recursos em um projeto. O tipo mais conhecido é a Curva “S” ou de Agregação Acumulada, obtida pela plotagem dos gastos acumulados, em geral mensalmente.

Curva S – Conceito

A curva S, em termos práticos, nos permite visualizar o quão distante uma execução está daquilo que realmente foi planejado. Trata-se de uma ferramenta gerencial que fornece dados que permitem um comparativo entre Planejado x Realizado. Não à toa, é assim que alguns costumam referir-se: Curva Planejado versus Realizado.

FONTE: Managing projects in organizations (2003)
FONTE: Managing projects in organizations (2003)

Este método fundamenta-se na Linha de Base, comentada no artigo Planejamento de Obras – Estudo do Valor Agregado (Parte I).

A curva S é uma representação da soma acumulada de parcelas de um total qualquer. Seja em Homem-hora, avanço físico, financeiro ou alocação de recursos. Pode ser elaborada com números absolutos ou em percentuais.

Ciclo de vida do projeto (PMBOK 6ª ed)
Ciclo de vida do projeto (PMBOK 6ª ed)

Agora, olhe bem a figura acima! Ela é importantíssima para que você entenda qual a verdadeira razão de nossa curva ter a forma de um “S”.

No início dos projetos, a distribuição de recursos ou nível de atividade é baixa, mas à medida que as etapas vão se encaminhando para o nível de “execução” o risco do projeto diminui, as incertezas caem e os recursos vão sendo mais aplicados. Trocando em miúdos: geralmente, é a partir da fase de execução que se elevam o consumo de recursos.

Ao início e ao final da obra, há menor consumo de recursos, quando se compara com o meio do projeto. É exatamente esse “pico” que dá a nossa curva o formato que tem.

Curva S – Vantagens

Sendo uma ferramenta de controle gerencial de projeto, de posse de informações fidedignas, os “controllers” poderão extrair uma série de decisões administrativas e financeiras. Tais como:

  • definição do total de recursos necessários para a conclusão da obra;
  • atendimento a demandas previstas em contratos;
  • acompanhamento de gastos, mão e obra ou recursos alocados;
  • realizar atualizações corretivas em casos de atrasos ou gastos excessivos.

Linha de Base dos Custos

De maneira simples, uma linha de base do projeto seria a representação da integração entre escopo, tempo e custo. É o percurso pelo qual a nossa obra deveria seguir. Infelizmente, sabe-se que não é bem assim que funciona no dia a dia em nossos canteiros. Quem nos dera!

Agora, sejamos mais técnicos, engenheiros! A linha de base dos custos é a versão aprovada do orçamento do projeto, excluindo quaisquer reservas gerenciais. Dessa forma, só pode ser mudada através de procedimentos formais de controle de mudanças. É usada como base para comparação com resultados reais. A linha de base dos custos é desenvolvida como um somatório dos orçamentos aprovados para as diferentes atividades de cronograma.

As estimativas dos custos que constituem a linha de base dos custos estão diretamente ligadas as atividades do cronograma, permitindo uma visão referencial da linha de base dos custos que é normalmente mostrada na forma de uma curva S.

Para projetos que usam o gerenciamento do valor agregado, a linha de base dos custos e referida como a linha de base da medição do desempenho.

Como fazer?

Essa é a parte mais tranquila (Ufa!). Explicarei agora como encontrar a Curva “S” para o nosso orçamento planejado.  É importante que saibam que os mesmos passos valem para determinar a curva para os gastos reais (“curva de realizados”).

Na tabela abaixo, basicamente, inicia-se com colunas: período considerado e valor destinado. Eu dividi o estudo em ciclos semanais de custos; ou seja, qual valor deverá ser gasto em cada semana.

A partir desses dados, faz-se uma segunda coluna para o custo planejado acumulado. Isso reproduzirá quantos reais foram gastos até determinada data, desde o início da obra.

Tabela - Orçamento planejado
Tabela – Orçamento planejado

E, adivinhem?!

É só isso. Plotamos os valores referentes aos gastos acumulados em um gráfico e teremos nossa curva “S”.

Curva S (Planejado) - Exemplo
Curva S (Planejado) – Exemplo

Observações importantes

OBSERVAÇÃO 1: Não analise a curva por si só!

Embora seja uma ferramenta gerencial importantíssima, existem certas conclusões que não pode tirar apenas com base na curva S.

É comum engenheiros, ao analisarem a curva S, afirmarem que uma obra está adianta ou atrasada, em termos de cronograma! Isto é, analisando unicamente a baseline e o curva de valor agregado. Este é um erro gravíssimo.

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Como comentei nesse post, não necessariamente uma obra está atrasada analisando somente a curva Planejado x Executado. Isso porque a obra pode estourar prazos em setores da obra, cujo o atraso não afetarão o caminho crítico do projeto.

Há diversos fatores que podem servir de explicação para determinado fenômeno. Portanto, para uma informação fidedigna, fazemos uso de outras ferramentas e técnicas gerenciais.

OBSERVAÇÃO 2: Descolamento horizontal

Imagine que nossa obra foi executada até a semana 4, sendo a duração total igual a 8 semanas. Abaixo, está a representação das curvas comparativas entre planejado e realizado.

Descolamento horizontal - Exemplo
Descolamento horizontal – Exemplo

Perceba que há um “descolamento” entre a curva de realizado e a de planejado. Ou seja, uma está acima da outra.

Quando analisamos o distanciamento horizontal, podemos tirar algumas conclusões. Veja que, ainda na semana 04, os gastos previstos foram antecipados em aproximadamente uma semana.

Cabe então ao gestor da obra entender se as motivações foram positivas ou negativas.

OBSERVAÇÃO 3: Descolamento vertical

Do mesmo modo, o “deslocamento vertical” nos retornará como os recursos estão sendo aproveitados ao longo do tempo. Veja a imagem abaixo.

Descolamento vertical - Exemplo
Descolamento vertical – Exemplo

O nosso gasto planejado para a semana 04 é de R$ 28.000,00. Contudo, o nosso gasto realizado acumulado atingiu um valor de R$ 36.700,00.

Ou seja, o nosso descolamento vertical demonstra que estamos gastando mais recursos do que o previsto para a semana atual.

Vídeo

Palavras Finais

A curva “S” é um tema que pode ser aprofundado – e pretendo trazer informações mais densas futuramente –, mas hoje deixarei vocês com uma abordagem geral. Procurei abordar o necessário para que você entenda como construir a sua própria curva, bem como entender a sua importância em gerenciamento de obras.

Por ora, despeço-me de vocês e aguardo por nosso próximo encontro.

Abraços do João!

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